Ser condescendente ao mal

Ser otário é o reconhecimento ou rotulação explícita e também implícita do que se considera esperto, mas que na verdade é o malicioso, aquele que busca suprir suas necessidades e desejos a partir do outro e não pelos seus próprios esforços.

Aquele de boa índole, que preza os bons atos, que tem sensibilidade ao ponto de não explorar a boa vontade alheia, acaba sendo condescendente com os atos gananciosos, egoístas e maliciosos, daqueles mais próximos, sendo vistos por aqueles como otários, e a boa pessoa entra em crise por não saber como agir, pois deplora causar prejuízo, tomar atitudes que prejudique os outros, mas deve entender que aceitar o mal feito é cumpliciar, é como o fazer, ou mesmo estar incentivando a que se faça.

O homem ou a mulher que aceita a má atitude do parceiro é cúmplice dele, mesmo sendo também a vítima. Criar desculpas, por mais ponderada que seja, por mais lógica que seja, se reveste do mesmo malefício do ato do errado.

Uma lenda fornece de forma clara a atitude ou a postura que a pessoa deve ter frente a situações de abuso e desrespeito.

 

A LENDA HINDU DA SERPENTE E DO SANTO 

          Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou: - Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém. A víbora recolheu-se envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas , desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém que o santo voltou pelo mesmo  caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouvi-la: - Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os  teus dentes e emitindo os teus silvos.

 

Os nossos dentes e silvos são as leis e a Justiça, criadas a fim de nos proteger dos maus atos.